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2016

31 de dezembro, penso se devo escrever sobre o ano que termina. Parece que o tanto vivido torna mais difícil qualquer texto, porque dilui os assuntos. Resolvo me concentrar na política brasileira, mais particularmente no golpe, mas mesmo isso é muito. Fecho ainda mais o foco e penso no papel do Judiciário.
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A voz das ruas

As ruas de Porto Alegre me fazem Quintana. Quando, fato raro, passo por elas distraído, descubro novos ângulos, cores não vistas e penso Quintana. Abro, como ele, o mapa e me sinto um anatomista. Quando por elas transito, me penso nesse estranho sistema circulatório da cidade, onde não há artérias, só veias que carregam gás…
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Rubinho e o bêbado

A ilustração é apropriadíssima: uma foto de Rubinho Barrichello – coitado, sempre ele – com a legenda “estou achando que foi golpe”. É uma percepção vaga e de difícil construção no meio jurídico, lugar onde, afinal, se trata da lei e sempre fica mais difícil ao ardoroso defensor do impeachment admitir que foi agente do…
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A fábrica de linguiças

As leis são como linguiças: se as pessoas soubessem como são feitas, não as comeriam. É mais ou menos assim a frase, que, dizem, nunca foi pronunciada por Bismarck, embora ele tenha levado a fama. Não tem a ver com ideologia, falsa consciência, reificação, em suma, com as condições de ignorância que impedem as pessoas…
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A lagartixa

Teratológico. Aprendi tarde essa palavra, e nunca a vi fora da linguagem jurídica. Não lembro de tê-la usado e não gosto dela. Quando a ouço, penso numa lagartixa com suas patas multiplicadas, como se fosse uma lacraia. Teratológico é isso, um absurdo lógico. Esta lagartixa tem cabeça e pés, muitos, mas poderia não ter pé…
