Cara, coroa

Confesso que fiquei tentado a escrever sobre as 271 vezes que deu cara, coroa, cara, coroa e como isso corresponde à quantidade de átomos da Terra, mas o assunto é sério demais para fazer brincadeira.

Melhor é falar sobre o presidente que 271 vezes, dia sim, dia também, ameaça a democracia, ora no simplório raciocínio de que, se lhe faltarem votos, é porque houve fraude, ora dizendo que não haverá eleições se elas não forem limpas (entenda-se: com o voto impresso, como ele exige). Aplicada sua matemática à quantidade de vezes que repete o discurso golpista, a conclusão seria a de que, na proporção da quantidade de átomos, ele se prepara para dar o golpe.
Seria apenas patético, se contasse apenas com seu quarto da população fidelizado nesse populismo direitista, mas tem a seu lado também as armas, dos quartéis, das milícias, dos ruralistas.
A publicação de nota ameaçadora pelos ministros militares, incapazes de aceitar a exposição de escândalos que envolvem membros das Forças Armadas, é apenas mais uma demonstração, se não da sua disposição em dar suporte armado a um golpe, ao menos da sua eterna disposição para chantagear a democracia, cada vez que se sentem contrariados. Não é diferente a fala do comandante da Aeronáutica, quando diz que homem armado não ameaça.
Não dá para rir dos átomos do presidente: ele e a turma que o cerca são perigosos demais. Agora é hora de os democratas do país se unirem para impedir a concretização das ameaças. Resistir é preciso, para que, ao final, um seja posto no lugar que a História lhe reserva e os outros postos no seu lugar constitucional, para que nunca mais nos ameacem.
Porque democracia não se constrói com cara ou coroa.

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