-
A fábrica de linguiças

As leis são como linguiças: se as pessoas soubessem como são feitas, não as comeriam. É mais ou menos assim a frase, que, dizem, nunca foi pronunciada por Bismarck, embora ele tenha levado a fama. Não tem a ver com ideologia, falsa consciência, reificação, em suma, com as condições de ignorância que impedem as pessoas…
-
A lagartixa

Teratológico. Aprendi tarde essa palavra, e nunca a vi fora da linguagem jurídica. Não lembro de tê-la usado e não gosto dela. Quando a ouço, penso numa lagartixa com suas patas multiplicadas, como se fosse uma lacraia. Teratológico é isso, um absurdo lógico. Esta lagartixa tem cabeça e pés, muitos, mas poderia não ter pé…
-
Morreu na contramão

Era para ser bissexto, mas adquiriu uma regularidade, e na manhã cansada de sábado o editor que me habita me sacoleja na cama e me manda ao texto. Às vezes, é só o tempo de levar ao monitor o artigo que me interpelou ao longo da semana, e ele jorra fácil, com frases previamente construídas.…
-
Salve a Cultura

É só uma frase, mas desde a primeira vez a ouvi do mesmo jeito. De salve a Cultura na memória do seu rádio ouço só salve a Cultura. Ou cultura, substantivo comum. Talvez um dia descubra se foi mais que mera intuição e, de fato, havia aí um grito de socorro antecipado, para pegar subliminarmente…
-
Prenderam ele

Diálogo que imaginei para um lugar distante, num tempo remoto: — Lembra aquele cara que não deixava pivete apanhar? — Lembro, sempre peguntava: tem certeza que foi ele? — Sim, aí o cara largava o moleque. Como se chamava mesmo?
