Pesos e medidas

Sabe, eu acho que não pode proibir o Moreira Franco de ser ministro. Ele ainda não é réu, acabou de ganhar foro privilegiado e o Governo Temer conseguiu se queimar mais um pouco, mas o prejuízo é político, e não cabe ao Judiciário proibir a nomeação.

Também não acho errado manter em sigilo a lista da Odebrecht: se a lei diz que o acordo de colaboração premiada deve ser sigiloso e sua divulgação só pode ocorrer depois de recebida a denúncia, não há motivo para reclamar do STF pela não liberação. (Se poderá reclamar se o recebimento da denúncia ficar para as calendas gregas, mas aí é outra história.)

Pelo jeito, o Supremo se acautela e assim evita abusos e ilegalidades, como aqueles infindáveis vazamentos, cuja única possibilidade de ocorrerem era por ação de agentes públicos. Aliás, o mais grave deles sabemos todos quem fez – nesse caso, nem foi escondido, mas feito no papel de herói, com certeza da impunidade.

Quando ouço essas notícias do Supremo, penso que as coisas se ajeitam: lubrificaram a balança enguiçada, ajustaram o contrapeso, e agora ela voltou a pesar certo.

Pena que a balança de que falo não é mecânica, não é uma balança literal, mas metafórica.

Nesse caso, os pesos e as medidas são outros, e não há lubrificante que compense com pesagens bem feitas as pesagens mal feitas de antes.

Porque aí fica a impressão de que alguém mexeu na balança e a desregulou de propósito.

Pior: fica a impressão de que, quando conveniente, isso pode ser feito.

Esse pensamento me ocorre quando lembro de antigas polêmicas que aconteceram na esquerda sobre confiar ou não na democracia.

Não que alguma vez tenha me iludido com a existência de uma democracia real: basta ver quem está no Congresso, e se percebe que não há uma representação igualitária. Tampouco tenho expectativa de que num outro regime se chegasse a uma democracia ideal: provavelmente nossa condição humana, com todas as nossas imperfeições, torne impossível que algum dia isso aconteça.

Talvez por isso, ainda que considerando pobre essa democracia, sempre achei revolucionário lutar por sua ampliação. Também sempre achei revolucionário defender as regras do jogo. E é revolucionário justamente porque uma democracia forte é caminho para ampliar direitos e melhorar a vida das pessoas.

Mas, como confiar nessa nossa balança? Não sei, acho que ando pessimista demais.


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