Disse o jurista: “Penso que não houve crime, mas não é golpe, porque nos golpes os opositores são calados. Aqui houve processo e direito de defesa. E o impeachment está previsto na Constituição. Além disso, trata-se de processo político, e são os senadores que decidem livremente se devem cassar.”
O jurista que assim fala está feliz, porque vivemos uma festa democrática, em que todos discutem política. É a própria pólis.
Ele é culto, leu o Processo de Kafka. Sabe que nenhum juiz condenaria à prisão quem cometeu delito de trânsito. Mas diz que tudo é democrático, porque não se levantou uma baioneta, não houve prisões, torturas, mortes. Nem a imprensa foi censurada. Se assim fosse, seria golpe, mas não é: tem verniz, tem até presidente do Supremo presidindo a sessão.
O jurista diz que o Congresso não precisa de motivo para o impeachment. Então, no dia marcado para a derrubada da presidente eleita, ele comemora a democracia. E diz que não é golpe.
Ouvi. Já não consigo botar ironia no sorriso. O sorriso é de tristeza mesmo.
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