Calma, não se assuste, não foi no Brasil. O general preso foi o comandante do Exército do Uruguai, porque se manifestou contra a reforma do sistema de aposentadoria dos militares. Ficou aliviado por não ser aqui? Compreendo: se acontecesse aqui, os quartéis estariam em pé de guerra e o alvoroço com o risco de golpe seria ensurdecedor.
Sim, porque no Brasil as coisas funcionam ao contrário: ao invés de o presidente civil eleito – outra diferença: lá se respeita o resultado das urnas – mandar prender o comandante do Exército, aqui é o comandante do Exército que dá as cartas, dizendo quem pode ser candidato e dando indiretas sobre a possibilidade de intervenção militar.
No Brasil, tão grave ameaça à democracia, vindo justamente do chefe militar, passa quase despercebida. Ou, pior, quando mencionada, serve como reforço argumentativo de quem – e não são poucos os pseudodemocratas – toma sua fala em reforço às suas próprias posições, tipo “viu? os militares não vão deixar”.
Se nosso comandante do Exército – e dizem que é da linha moderada – pode falar semelhantes coisas sem ninguém manifestar sequer um desconforto, imagine, então, o que se ouvirá de quem já está de pijama: na semana em que o presidente do Uruguai mandou prender seu comandante, aqui o general aposentado candidato a vice declarou que defende uma nova Constituição, elaborada por constituintes nomeados.
Daí me pergunto: onde está nossa sociedade civil, onde estão aquelas entidades que surfaram na onda na época do golpe, digo impeachment, sem se preocuparem com as ilegalidades que então eram cometidas? Estão mudas. Ninguém se torna grande surfando a favor da onda: a grandeza está em defender a resistência contra o poder, quando ele se torna opressor. E isso não se vê no Brasil liliputiano.
Aqui, sábio é o novo presidente do STF, que nomeia como assessor um general indicado pelo comandante do Exército, aquele mesmo moderado que chantageia o Supremo antes dos julgamentos.
Definitivamente, Brasil e Uruguai não são diferentes só no tamanho: lá as pessoas são colocadas no seu devido lugar, e o lugar de general que tenta interferir nas decisões políticas é a cadeia. Aqui, colocar as pessoas no seu devido lugar tem outro sentido, e cadeia é lugar de preto e pobre.
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