O Jornal do Almoço de sábado trouxe uma matéria sobre a Banda Liberdade, integrada por adolescentes infratores de Passo Fundo, numa iniciativa do juiz Dalmir Franklin Oliveira Júnior e do professor Marcelo Pimentel (certamente há outros participantes, mas foi destes que a matéria falou).
Não conheço de perto a iniciativa, não sei de seus resultados, se há dados que permitam concluir tenha havido a redução da reincidência e tenham se aberto portas aos egressos para uma vida digna de cidadãos.
Também não sei se, paralelamente à valorização e à convivência propiciadas pela Banda, o próprio Estado oferece outros recuros, como um ensino adequado e a possibilidade de futura inserção no mercado de trabalho, condições essenciais para a construção da cidadania.
Mesmo assim, tenho plena convicção de que o primeiro passo, a valorização da pessoa e o estímulo a que ela mostre suas virtualidades, o que no caso é feito por meio da música, está dado.
Quando vejo uma iniciativa dessas, num tempo em que corre solta essa postura punitiva de tantos, bem demonstrada pela adesão que a ideia da redução da menoridade penal encontra na sociedade, sinto que ela vale mais que mil argumentos.
Sempre me pareceu muito óbvio que a criminalidade se alimenta fundamentalmente das disparidades sociais e da falta de oportunidades. Também sempre tive a convicção de que a cadeia é um lugar de onde as pessoas saem piores, porque a formação que os presos lá recebem não é do Estado, mas do crime organizado.
Mas é pra lá que querem mandar os adolescentes infratores, numa visão que não é de quem compreende e quer recuperar, mas de quem quer castigar. As pessoas nem sequer pensam que quem entra um dia sairá, e sairá pior; sua motivação é punitiva, como se nossa vingança tornasse o mundo melhor.
Responder a isso com argumentos é sempre muito difícil, e dizer que adolescentes não têm maturidade para responderem criminalmente recebe respostas irônicas, quando não inflamadas, de que eles assaltam igual e de quem assim pensa é defensor de bandidos.
A Banda Liberdade é uma resposta melhor que palavras. É uma demonstração de empatia, de compreensão e aceitação. É uma coisa que de regra nos falta no dia a dia, mas que principalmente nos falta quando tratamos com quem cometeu infrações. Faltam exemplos como este, e só por isso eu me rejubilo com a iniciativa.
Aliás, me perdi no texto, porque ia escrever outra coisa, e vou dizê-la rapidamente.
Ia escrever sobre fazer a diferença, porque é isso que o Dalmir faz. Confesso que, quando ouvia fazer a diferença, achava meio estranho, tinha a impressão de que falavam do Clark Kent, mas, não, não é tão difícil, é só ver como fazem em Passo Fundo.
Ou talvez seja mesmo difícil. Somos cidadãos comuns, pessoas que estudaram, abraçaram uma profissão e procuram ser bons profissionais. Sou juiz, estudo os processos, trato bem as partes, tento ser justo nas sentenças e no final da tarde vou para casa com a sensação de dever cumprido.
E acho mesmo que cumpro meu dever, assim como o leitor certamente o faz. Ninguém precisa fazer o que o Dalmir faz. Mas é bom saber que há quem faça a diferença.
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