Era uma ação de guarda, com vários estudos sociais, com informações do serviço assistencial do Município, e sem muita perspectiva. A avó materna tinha consigo as três netas, porque os pais estavam presos, mas toda a boa vontade dela era insuficiente para dar conta do tamanho da tarefa, principalmente nas condições que a cercavam.
Por isso, a soltura da mãe e a possibilidade de recomposição do núcleo familiar foi um alívio, compartilhado por ambas, que foram à audiência pedir a extinção da ação.
À minha pergunta sobre a condição de Nicole, em especial se ela se submetia à fisioterapia, a resposta foi de que ela ia às sessões na rede pública sempre que possível, mas os exercícios diários eram praticamente impossíveis, porque a falta de um teto na casa impedia a fixação de um trapézio.
Escrevi o texto abaixo. Quando surgiu a ideia das historinhas, não dava para reaproveitá-lo do modo como estava, e por isso o reescrevi, dando o nome Historinha triste e sugerindo às crianças que pensassem um final feliz.
Ao final da audiência, pensamos um final menos infeliz: tentaríamos conseguir para elas uma casa em lugar mais acessível, algo mais confortável e que permitisse ao menos a instalação do trapézio.
Estamos devendo esta, Patrícia e Cassandra.
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Nicole levou um tiro.
Pai preso, mãe presa, Nicole foi morar com a avó. Ela e as irmãs.
A madeira podre da parede não segurou a bala. Nicole levou um tiro.
O pai morreu. A mãe, na condicional, faz faxinas.
Saíram do Sarandi, foram para o Partenon.
A avó comprou a casa: 4 mil. É a última da vila, junto à pedreira.
Nicole sobe o morro em cadeira de rodas.
Não todo: no trecho final vai no colo da mãe. As irmãs arrastam a cadeira.
A mãe, 29 anos, faz faxinas e quer uma casa melhor.
Nicole, 12, quer ser médica.
Feliz Natal, Nicole.
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